Está na voz que sai do rádio do táxi, no olhar baixo dos que conversam nas tabernas, nas mesmas fotos e palavras que ilustram as capas dos jornais: mais um atentado do ETA depois do cessar-fogo. Em minhas duas últimas passagens pela Espanha, presenciei o temor que se seguiu ao fim da trégua, o atentado no Campo das Nações em fevereiro e agora a explosão de um carro-bomba em Burgos, ao lado de um edifício da guarda-civil onde dormiam as famílias dos policiais.
Hoje, dia seguinte ao ataque, pelas ruas se vê nada mais que dúvida e inconformidade: para quê? E mal havíamos começado a pensar nas possíveis respostas quando,nas TVs, rádios e jornais nos informam da morte de dois guardas pela explosão de um outro carro-bomba, dessa vez em Mallorca. A sensação suspensa é a de que todos os dias serão dias depois de um atentado, de caras baixas e conversas indignadas.
No ano de seu cinqüentenário, o grupo ETA precisa atacar para existir. Ao mesmo tempo, dá provas de todos os retrocessos em termos de estratégia e maturidade política para defender seu objetivo (ainda que seja nulo em argumentos e legitimidade) de criar de um Estado independente na região que compreende o norte da Espanha e o sudoeste da França. Hoje, o que se escuta por aqui é que não passam de uma banda de criminosos. A desmoralização é total – e é aí que reside a única esperança de todos e, particularmente, a minha. Já não se ouve vozes dissonantes como talvez se pudesse escutar como resposta nas épocas do autoritarismo franquista. Nem mesmo o Partido Nacional Vasco têm o que dizer sobre a anti estratégia e a falta de humanidade da organização etarra. Minhas andanças e meus ouvidos bisbilhoteiros me dizem, aliviados, que o repúdio é unânime.
Num tempo em que já se questiona o paradigma do Estado Nação e o próprio processo de construção das identidades nacionais, o grupo terrorista dá passos para trás. E os resultados dos ataques foram nulos: não conseguiu nada mais do que alguns outros tópicos em sua lista de atrocidades. E, diante da incapacidade de resolver o problema do terrorismo através das instituições políticas e com outros problemas de muitas outras ordens a enfrentar, os espanhóis “tiram pá delante”, um dia após o outro.
Do editorial do El Pais de hoje, mais um dia: “Para cometer atentados como los de Burgos y Mallorca no hace falta mucha fortaleza, sino muy pocos escrúpulos.”