martes, marzo 31, 2009

6 anos no inferno

20 de março de 2003. Invasão do Iraque. Bagdá caiu alguns dias depois, em 4 de abril. Depois de tanto tempo, tempo que poderia ser contado em baixas, já esquecemos de discutir em que circunstâncias uma guerra de agressão se tornou uma guerra "preventiva" - e o tempo passa mais, dificulta mais, esquece mais...

Numa aula de Direito Internacional, o professor levantou uma questão crucial para entender o jogo da guerra: alguns anos antes do fatídico discurso de Bush que terminou - como de praxe - com o "God bless America", e que determinou o início dos borbardeios, os Estados Unidos já finaciavam pesquisas no âmbito jurídico para que se consolidasse a doutrina da guerra preventiva. Era a legitimação necessária para não incorrem no erro de burlar o próprio sistema universalista que ajudaram a construir na ONU e no Conselho de Segurança.

Sim. Não esqueçamos que a ONU mesma nasceu dentro de um sistema de orientação bélica. Mesmo que a palavra não faça parte do vocabulário diplomático - que prefere termos como "paz" ou "manutenção da paz", seja que estado de espírito for esse -, o organismo se baseia na regulamentação da guerra. Legitimar ou não uma invasão?!

A guerra por agressão, que virou guerra preventiva, a conhecida guerra contra o terror é uma das tantas que o tempo parece querer cobrir.

Recomendo um especial multimídia preparado pela Reuters quando o conflito completou 5 anos.
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"Una vez conectados gracias a la nueva técnica, descubrimos que tenemos poco que decirnos." (R. Kapuscinski)

* Jerry Lampen, Reuters

jueves, marzo 26, 2009

Mais Playing for Change

Todos os que assistem pela primeira vez os vídeos do projeto têm reações similares. Ontem foi a vez do Jonathas! Aqui, um videozinho em comememoração ao aniversário de Robert Nesta Marley, o Bob - que foi em 6 de fevereiro! Perdoem o delay...


miércoles, marzo 25, 2009

Para não esquecer

A guerra no Congo não acabou com a captura do líder tutsi Laurent Nkunda. Não acabou porque não se trata apenas de um conflito étnico ou político entre forças congolesas e ruandesas. O problema é que, para nós, é mais fácil entender um conflito que responda à idéia que sempre fazemos dos africanos - estão se matando! Como seria complicado explicar que, por trás das atrocidades cometidas pelos dois bandos, existem interesses econômicos ocidentais. Como sempre, prefirimos manter uma explicação asséptica.

Como bem me lembrou meu amigo João Paulo, uma das principais causas do conflito é a disputa pelo controle das minas de Coltan (columbita + tantalita, dois minerais dos quais se extraem metais para a fabricação de celulares, computadores e estações espaciais). Pois sim: nossos computadores podem estar financiando a guerra em Kivu, que obrigou a mais de 2 milhões de pessoas a deixarem suas casas. A cada quilo que Conltan contrabandeado para Ruanda, a milícia recebe 10 dólares. Por que será que, dos 17 mil soldados da ONU que hoje estão no território (sim! A maior missão de paz das Nações Unidas), apenas centenas foram deslocados para a região?!


martes, marzo 24, 2009

Jornalismo e Direitos Humanos

http://www.pmasdh.com/

Novo blog de jornalistas que promovem a defesa dos direitos humanos como um dois eixos da profissão. Nada mais coerente e necessário!

"La defensa de los Derechos Humanos es una de las tareas primordiales del periodismo y los periodistas no podrán ejercer su labor si sus propios derechos humanos son vulnerados."

Amém.

lunes, marzo 23, 2009

Johnny Osbourne - We need love

Pelas imagens, pela música, pela mensagem...

viernes, marzo 20, 2009

Pão


Sol das 7h batendo na janela do carro, tráfego intenso no sentido contrário, conversando com a Gi sobre impressões compartilhadas.

Quando os respectivos aviões pousaram em Guarulhos – bafo quente e úmido, confusão no desembarque, o português brasileiro em todas as bocas, pão de queijo quentinho na vitrine – o coração acelerou gostoso: em casa! Um sentimento de amor apertou, quase com vergonha, dizendo como é bom voltar para a terrinha. Sem demagogia ou nacionalismo barato – apenas um sentimento puro de segurança, de pertencimento. “Na mesma hora pensei nos saarauis. Agora entendo melhor o que significa para eles a liberdade de voltar para casa”, disse a Gi. Durante a viagem, muitas vezes nos pegamos pensando em como é difícil entender com profundidade o que é a luta pela terra e pelo regresso. Nunca saberemos o quanto dói. Ouvimos palavras como dignidade e direito, mas continuávamos perguntando se a luta valia a vida (alguma vale?!).

Isso tudo para introduzir uma experiência:

Estávamos cansados e certos de que não queríamos outra noite ao relento (o inverno no Saara não é nada amigável). Fomos dormir com uma família de nômades, que nos acolheram com música, comida e carinho. No dia seguinte, fui despertada pela avó que, anos atrás, havia fugido com seus filhos, andando pelo deserto, escondendo-se das bombas que caiam. Não sabe quantos anos tem – e, ao final, qual é a diferença?! "´Os nômades tem uma relação diferente com o Espaço e com o Tempo´", disse um antropólogo espanhol.

Isso tudo torna ainda mais significativo o ritual do pão, que acompanhei naquela mesma manhã fria. Com toda sua sabedoria e um pouco desconfiada, a matriarca perguntou por que eu me interessava tanto por aquilo. Afinal, era apenas água e farinha. Assim de pobre. Assim de insosso. Respondi que esses traços de sua cultura, tão bonita e simples, me ensinam muito sobre sua história. De fato, quanta coisa pensei e aprendi enquanto a via amassar tudo o que tinha naquele jarro antigo; enquanto esquentava a lenha e desenhava um círculo no chão, enquanto abria a massa e, num gesto divino, soltava-a bem em cima de um buraco; enquanto a cobria com areia e sorria indicando que estava feito.

O pão cozinha no calor da sua terra. Estamos nas zonas liberadas do Saara Ocidental, a pequena parte do território que ainda está sob controle saarauí.