lunes, enero 26, 2009


Samuele Pellecchia, da agência Prospekt.

lunes, enero 19, 2009

Enquanto isso, no Brasil...


"O mergulho nas trevas do lamento e da impotência foi tão profundo que alguns se perderam pelos subterrâneos, ficaram na margem ou escolheram as viagens permanentes. Mas muitos cansaram de se lamentar, talvez com medo de se tornarem tristes heróis de uma 'guerra acabada'. Estão voltando a querer, isto é, estão recuperando a vontade para voltar a fazer - apesar de tudo." (Vladimir Herzog)

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Justiça arquiva caso de jornalista Vladimir Herzog, morto pela ditadura


http://knightcenter.utexas.edu/blog/?q=pt-br/node/2724

A juíza federal Paula Mantovani Avelino determinou o arquivamento dos pedidos do Ministério Público Federal para que fossem investigadas criminalmente as mortes do jornalista Vladimir Herzog e do militante de esquerda Luiz José da Cunha, torturados e assassinados por agentes do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) durante a ditadura militar, informaram o Último Segundo e O Globo.

A juíza concordou com a argumentação da procuradoria criminal, que considera os crimes prescritos, disse O Globo. Isto significa que, em ambos os casos, já se passaram mais de 35 anos, tempo superior ao da pena máxima fixada abstratamente para homicídio, explica o Último Segundo.

Outro argumento da juíza foi o fato de o Congresso brasileiro nunca ter ratificado a convenção internacional de 1968, que transforma tortura e assassinatos políticos em crimes imprescritíveis. O Globo acrescenta que entidades civis pretendem levar o caso à Justiça internacional: Chile e Peru não ratificaram a convenção. Isso não impediu que fossem condenados pela Corte Interamericana, disse a procuradora cível Eugênia Fávero.

No dia 24 de outubro de 1975, o jornalista Herzog, que na época era diretor do Departamento de Jornalismo na TV Cultura, apresentou-se na sede do DOI-Codi, em São Paulo, onde iria prestar esclarecimentos sobre o seu relacionamento com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Foi preso, torturado e morto no dia seguinte, acusado de ligações com o partido. Leia aqui reportagem do Observatório da Imprensa sobre Herzog.

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Engraçado (para não dizer trágico) pensar nisso no momento em que o Brasil compra briga com a Itália para defender Battisti, do grupo Proletários Armados pelo Comunismo, condenado por 4 assassinatos. Vai entender...

martes, enero 13, 2009

Apartheid


"SOB O ÓDIO DOS VIZINHOS. Atrocidades da guerra na Faixa de Gaza atrapalham o entendimento de Israel como uma ilha de democracia cercada de ditaduras no Oriente Médio". (Veja, 14 de janeiro de 2009). Mesmo sabendo que não devo mais me surpreender com as pérolas da Veja, não pude deixar de tremer, desconsolada pelas formas de jornalismo que ainda perduram... Por trás do título, uma dúzia de soldados israelenses choravam a morte de um companheiro.

Nosso semanário esqueceu de algumas coisas: (1) O que é democracia? (2) O ódio Israelese também mata - 890 vidas desde 27 de dezembro; (3) Israel fez o que justamente o Hamas esperava: revidou, abalando o poder da Autoridade Palestina e seus esforços em alcançar a paz através da diplomacia; (4) Israel está violando os direitos humanos em tantos pontos que seria impossível enumerá-los aqui; (5) nem a justificativa, nem o custo desta guerra, nem mesmo a possibilidade do objetivo ser alcançado se sustentam; (6) a Palestina e seu direito de existir não pertencem ao Hamas que, há muito tempo, deixou de lutar em prol dos palestinos.

Pois vejam vocês a última façanha da "democracia" israelense: os dois partidos árabes responsáveis por representar 20% da população foram banidos da próxima eleição, que deve ser realizada no começo de fevereiro. Em carta de 2001 endereçada ao jornalista Thomas Friedman, Nelson Mandela já alertava para a nova cara do Apartheid:

"(...) Israel não pensava num 'Estado' e sim numa 'separação'. O valor da separação mede-se em termos da capacidade de Israel para manter judeu um Estado judeu e de não ter uma minoria palestiniana que pudesse no futuro transformar-se em maioria. Se isso acontecesse, obrigaria Israel a tornar-se ou um Estado laico e bi-nacional ou a tornar-se um Estado de apartheid, não só de facto, mas também de direito.

Thomas, se você prestar atenção às sondagens israelitas ao longo dos últimos 30 a 40 anos, vai ver claramente um racismo grosseiro, com um terço da população a declarar-se abertamente racista. Este racismo é do tipo 'Odeio os árabes' e 'quero que os árabes morram' Se você também prestar atenção ao sistema judicial israelita, vai ver que há discriminação contra os palestinianos, e se considerar especialmente os territórios ocupados em 1967 vai ver que há dois sistemas judiciais em acção, que representam duas abordagens diferentes da vida humana: uma para a vida palestiniana, ou para a vida judia.

Além disso, há duas atitudes diferentes sobre a propriedade e sobre a terra. A propriedade palestiniana não é reconhecida como propriedade privada, porque pode ser confiscada. Para a ocupação israelita da Cisjordânia e de Gaza, há um factor suplementar a tomar em conta. As chamadas 'Zonas autónomas palestinianas' são bantustões. São entidades restritas no seio da estrutura de poder do sistema israelita de apartheid.

O Estado palestiniano não pode ser um sub-produto do Estado judeu, só para conservar a pureza judaica de Israel . A discriminação racial de Israel é a vida quotidiana dos palestinianos, porque Israel é um Estado judeu, os judeus israelitas têm direitos especiais de que os não-judeus não beneficiam. Os árabes palestinianos não têm lugar no Estado 'judeu'.

O apartheid é um crime contra a humanidade. Israel privou milhões de palestinianos da sua liberdade e da sua propriedade. Ele perpetura um sistema de discriminação racial e de desigualdade."

lunes, enero 12, 2009

Pernambucosevillano


João Cabral de Mello Neto também era sevilhano de coração – demorou até que revelasse isso para vocês, queridos amigos. Por isso, me desculpo! A Luiza, outra apaixonada pela cultura espanhola, contou tudo em uma matéria publicada no ZERO em Revista em outubro de 2007. Sinto também pelo delay...

Pois é. Pelo o que a Lú nos revela, o grande poeta pernambucano, que não era bobo nem nada, também gostava de ficar perto da praça La Campana, compondo versos modernistas e vendo as sevilhanas desfilarem coques e flores durante as tardes de verão.

Como João Cabral não veio para esta página antes ainda é uma incógnita. (minto: egoísta, acho que não queria dividir com mais ninguém a informação preciosa, a sensação de que só ele e eu vimos com o mesmo deslumbramento os pores-do-sol no Guadalquivir!)
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Sei que a maioria já conhece “Morte e vida Severina”, que acompanha as fotos de Sebastião Salgado. Mas nunca é demais relembrar aquele início, irretocável, onde temos o primeiro contato com “Severino da Maria do Zacarias, lá da serra da Costela, limites da Paraíba” – nós.

Esse post vai para meu grande amigo Paulo de Tarso que, 7 anos atrás, me cutucou durante uma aula chata e me entregou um poema do Vinicius. Mas “Morte e vida” ainda deve ser o seu favorito.

Morte e Vida Severina
(João Cabral de Mello Neto)

O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR
QUEM É E A QUE VAI

- O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

domingo, enero 11, 2009

Playing for change



Iniciativa incrível e, como as melhores, da maior simplicidade: unir através da música! Agradeço ao meu amigo Seba por ter me apresentado um projeto tão bacana, que agora divido com vocês. Neste endereço poderão acessar o site da organização. Recomendo que todos vejam o vídeo de apresentação do projeto - emocionante!

jueves, enero 08, 2009

Um pouco de doçura

* foto de Rina Castelnuovo /The New York Times

As desilusões causam mais estrago em janeiro. Ao longo do ano, esquecemos dos pedidos e sonhos feitos na hora da virada. Em março, junho, outubro, o rastro deixado pela guerra se confunde com outras tantas datas comemorativas e acontecimentos em capitulares. Mas agora, em janeiro, os desejos estão frescos na memória e a realidade arde nos olhos logo depois do foguetear do reveillon.

Para adocicar esse sentimento, escolhi postar aqui um texto de Fernando Sabino sobre a simplicidade – ou sobre a felicidade por trás dela. Regininha o apresentou numa inesquecível aula de crônicas, e sou grata por isso. Um sorriso infantil honesto, para que possamos nos lembrar de como ele é bonito e, por um breve momento, ter a paz de volta:

A última crônica

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

miércoles, enero 07, 2009

Em Gaza

Para os que estão acompanhando a guerra em Gaza, recomendo o blog de um palestino que mora lá. http://ingaza.wordpress.com/

Direto da fonte, preciosas informações alternativas.