jueves, abril 30, 2009

Diamantes estelares


Às vezes, os cientistas e os jornalistas têm a capacidade de tirar o encanto das coisas mais graciosas – tudo em prol da objetividade e da informação. O quão longe isso está, no entanto, da incerteza e da beleza da realidade.

O que vocês diriam, meus amigos, se descobrissem que fazemos parte de um universo que está repleto de pequenos diamantes?! Que imagem mais linda, de pequenos pontos cintilantes disperso na infinidade negra de tantos buracos, perigos e escuridão.

Quando penso nisso, não me importa o tamanho, o peso, do que são compostos, para quê servem – tudo isso me faria destruir a idéia tão linda de diamantes espaciais, livres, ao alcance de qualquer um que deseje vê-los (apesar de saber que não poderíamos).

Pois eis o que dizem os jorna-cientistas:

“El Universo está repleto de diminutos diamantes tan pequeños como un micrómetro tamaño inferior al grosor de un cabello humano) que se localizan en los discos de residuos que rodean a algunas estrellas, según confirman científicos que estudian en el telescopio Subaru en Hawaii (Estados Unidos).

Aunque en su totalidad estos suponen poco peso para el total del disco de residuos, su volumen puede llegar a ser tan grande como una parte de la Luna. Sin embargo, pocas estrellas con diamantes en su disco han sido identificadas. Así, los expertos han revelado que encontrar diamantes en el espacio requiere condiciones "muy especiales".

(...)

La necesidad de tales condiciones especiales explicaría porqué se ven tan pocas estrellas de estas características. Según los expertos, es posible que haya toneladas de diamantes que todavía el ser humano no puede apreciar a pesar de la tecnología.” (El mundo)

Se ao menos nos deixassem imaginar…
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*Obrigada ao meu amigo João Paulo, que me mandou a notícia graciosa e que, com muita paciência, sempre me ensina sobre o universo que não se vê nos telescópios.

lunes, abril 27, 2009

Retrato brasileiro

O Jonathas participou de um grupo do curso que foi para o Projeto Rondon no início desse ano. A viagem vai dar origem a uma exposição fotográfica e a um documentário. A foto abaixo faz parte do projeto e foi gentilmente cedida pelo meu querido amigo, fotorepórter de futuro e uma das pessoas que provam que é possível no jornalismo como ferramenta de conhecimento e aproximação.

Pedi que ele fizesse uma legenda que resumisse o que ele via ali, no olhar do garoto que terminava de pintar uma linda bandeira do Brasil. Obrigada pelo presente, Jonathas! (Aliás... no site dele, outros belos trabalhos!)


"Estar com crianças é uma bênção que nos faz aprender (ou relembrar) essências da vida. Talvez a mais simples e valiosa seja que um sorriso é uma coisa tão simples mas imaculada. Nós, como fotógrafos, eternizamos instantes. Às vezes instantes tristes e trágicos, que negamos olhar e viramos o rosto para não sentir náuseas. Mas também instantes belos pela sua simplicidade e incrível honestidade com a essência humana. Nesta foto, tirada numa creche de um bairro carente de Monte Alegre, no Pará, o olhar do garoto traduziu, para mim, toda alegria que exalava de seu espírito puro e iluminado." (Jonathas Melo)

lunes, abril 20, 2009

Muros

O cordão seria formado, mais uma vez, como uma demonstração de repulsa à violência que o muro representa. Para alguns, já não havia porque respeitar os 5 km que tecnicamente separam o território saarauí da parede de areia que corta o deserto. Lá estava ela, protegida por militares marroquino, como uma serpente de 2200 km. Brahim Husain Abait, de apenas 19 anos, não ouviu o apelo da Juventude da Frente Polisario. Avançou com todo o seu desespero, com todo o seu orgulho, com toda a dor de nascer no exílio. Pisou numa das minas que, com outras 9 milhões, formam o que pode ser o maior campo minado do mundo. Os gritos de dor foram intercalados com pedidos para que a bandeira saarauí que havia caído de suas mãos fosse devolvida.

Os gemidos de Brahim ressoaram em cada um dos 2500 participantes da manifestação. E chegaram até aqui. Ontem, uma reportagem no canal SPORTV mostrou um pouco do que acontece nos acampamentos de refugiados saarauis na Argélia. Mostrou a vida de outros jovens que já não agüentam esperar atrás da alambrada, que não medirão conseqüências para alcançar algo de que um dia já ouviram falar: a tal da paz. A matéria será reprisada amanhã, dia 20, às 23h.

MUROS - Por Eduardo Galeano

martes, abril 14, 2009

A Somália entrou no mapa


Os cada vez mais frequentes ataques de piratas a embarcações européias e americanas colocaram a Somália no mapa. Como de costume, a resposta enfática dos líderes ocidentais poderá dar conta dos problemas momentâneos gerados pelos ataques. Não mais que isso. Ninguém ainda mostrou sinais de que espiará o que acontece logo ali, em terra firme.

Desde 1995, quando a ONU resolveu abandonar o território controlado por milícias e chefes tribais, o mundo esqueceu das paredes bombardeadas de Mogadiscío. Foi uma desistência multilateral, um atestado de inoperância.

Como diz o jornalista Ramón Lobo, a pirataria é a única indústria que funciona. No ano passado, o negócio rendeu 75 milhões de euros.

Post de Fábio Zanini no blog Pé Na África.


Reportagem fotográfica do ElPais.

jueves, abril 09, 2009

Muto

Não é um vídeo novo, acho que muitos já devem ter visto... mas vale sempre a pena! É do blublu.org.

miércoles, abril 08, 2009

15 anos do genocídio

Para não esquecer... sugiro um multimídia produzido pelo Media Storm (do qual a foto abaixo faz parte).

* Jonathan Torgovnik. Ganhou o Prêmio de Retrato Fotográfico da National Portrait Gallery de Londres. Joseline Ingabire com sua filha Leah Batamuliza, Ruanda.

lunes, abril 06, 2009

Uma coisa


Texto de Noemi Jaffe, publicado edição 28 da revista Piauí. Gostei muito, muito mesmo, a ponto de achar que vale a pena disponibilizá-lo aqui, na íntegra. Quem quiser, pode ler direto do site.

É assim que nos tornamos temporais, fartamente solitários e amantes incompreensíveis da solidão, incapazes, como eu sou de compreender a história infinita

Eu aprendi que qualquer coisa pode se transformar numa história interminável e infinita. A palavra tigre contém o conhecimento de um tigre, de todos os tigres, dos mamíferos, de sua história no planeta, do capim que eles comeram, dos insetos que comeram o capim - da idéia de eternidade contida nos insetos, por oposição à idéia de tempo, propriedade dos mamíferos. Será que então estaríamos condenados a não falar sob pena de que, ao dizermos qualquer palavra, estaríamos traindo a eternidade, o galope dos cavalos e tudo o que ainda não aconteceu? Ou, ao contrário, estaríamos livres para sempre dizer tudo o que quiséssemos, mesmo que aparentemente sem sentido nenhum, já que todas as palavras sempre conteriam todo o conhecimento do mundo e da humanidade? E será que então estaríamos sempre, a todo o momento, realizando o sonho da biblioteca de Babel, do livro dos livros, simplesmente ao falar, mesmo que seja "que horas são"?

Tudo isso era porque eu queria contar um caso simples, que eu achei que, por ser tão simples e maternal, não teria estofo para preencher uma história. Foi então que eu lembrei que havia recentemente aprendido com meu fígado, com as coxas, com os cílios, que todas as histórias são intermináveis e contêm todas as outras que já foram, não foram, serão e não serão contadas, e então eu percebi que sim, que eu poderia contar esta história boba, porque ela conteria também as histórias que todas as mães contaram aos filhos nas casas das aldeias polonesas do século XII, e as histórias que os condenados ao calabouço pensaram antes de morrer, e as histórias que meus sucessores no futuro vão contar sobre um passado distante, quando um pio de passarinho ainda se misturava ao barulho de um motor velho de caminhão.

E a história que minha filha me contou é que o pai dela um dia lhe disse que "nada é perfeito". E ela, como era criança - e como as crianças acreditam na integridade das palavras dos adultos, porque para elas os adultos sempre dizem a verdade, sem saber que na verdade são elas, na sua crença, que são proprietárias da verdade que existe, e que consiste somente em acreditar nela e não em dizê-la, porque no momento em que você diz qualquer coisa você já está mentindo, mas não dizer e acreditar na verdade do que os outros dizem, aí é que está a verdadeira verdade -, ela, minha filha, acreditou que "nada é perfeito". Mas como era possível que nada fosse perfeito? Se aquilo era verdade, como minha filha continuaria acreditando na verdade perfeita do que dizia o pai? Se tudo o que o pai diz é perfeito em si mesmo, independentemente do conteúdo, perfeito só na condição única de ser pronunciado por um pai, como pode então um pai dizer que "nada é perfeito"? Se essa frase é perfeita, por ter sido emitida pelo pai, o que resta do pai? E o pai, que desenha muito bem, desenhou um dos 101 Dálmatas para a minha filha. E o desenho era perfeito, idêntico ao dálmata que aparecia na figura do livro de histórias. E minha filha pensou que era impossível que nada fosse perfeito e entregou-se ao exercício de encontrar algum defeito no desenho do dálmata perfeito, porque seu pai lhe havia dito que nada é perfeito. Se ela achasse perfeito o desenho do dálmata, estaria traindo a verdade do pai. Se, respeitando-o, achasse o desenho do dálmata imperfeito, trairia então sua percepção da perfeição, seu amor à capacidade absoluta de seu pai de desenhar um dálmata perfeito.

É assim, eu imagino, e aqui fiz meu primeiro parágrafo nessa história que eu supunha interminável, mas que agora, por ter posto o parágrafo, percebi que se aproxima do fim, é assim que a credulidade se desequilibra, estremece o pomo da certeza e se transforma numa pergunta, metralhadora sagrada do medo, do sonho e da maldição. É assim, eu acho, e isso já soa como uma moral da história, mas eu não me importo nem um pouco que seja assim, porque eu não tenho nada contra morais de histórias, porque já que as histórias acabam, então que elas acabem alguma hora, e que pelo menos seja com algum pequeno ensinamento, para que a tristeza do fim de qualquer coisa e de qualquer história se carregue de alguma textura táctil e o homem que ouviu a história vá para casa pensativo e tome café e pense se ele quer mesmo trabalhar naquela noite e olhe para sua mulher que está lutando com a boca do fogão que não acende, com um carinho que voltou e logo vai desaparecer. Mas eu dizia que acho que é assim, com a instalação da dúvida como um cabo elétrico instalado por um eletricista numa criança, é assim que o tempo começa a atuar sobre o olhar curioso e o torna um pouco desconfiado.

E é assim que nos tornamos temporais, fartamente solitários e amantes incompreensíveis da solidão, incapazes, como eu sou, de compreender a história infinita, o caso milenar que está a querer me contar aquele cruzamento de duas montanhas, uma mais alta e outra mais baixa, que eu vejo paradas no horizonte. Elas estão falando, ouço o eco de uma história silenciosa, que contém toda a verdade do tempo, das histórias, das palavras e do silêncio. Mas eu não consigo ouvir.
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* Escher