martes, enero 13, 2009

Apartheid


"SOB O ÓDIO DOS VIZINHOS. Atrocidades da guerra na Faixa de Gaza atrapalham o entendimento de Israel como uma ilha de democracia cercada de ditaduras no Oriente Médio". (Veja, 14 de janeiro de 2009). Mesmo sabendo que não devo mais me surpreender com as pérolas da Veja, não pude deixar de tremer, desconsolada pelas formas de jornalismo que ainda perduram... Por trás do título, uma dúzia de soldados israelenses choravam a morte de um companheiro.

Nosso semanário esqueceu de algumas coisas: (1) O que é democracia? (2) O ódio Israelese também mata - 890 vidas desde 27 de dezembro; (3) Israel fez o que justamente o Hamas esperava: revidou, abalando o poder da Autoridade Palestina e seus esforços em alcançar a paz através da diplomacia; (4) Israel está violando os direitos humanos em tantos pontos que seria impossível enumerá-los aqui; (5) nem a justificativa, nem o custo desta guerra, nem mesmo a possibilidade do objetivo ser alcançado se sustentam; (6) a Palestina e seu direito de existir não pertencem ao Hamas que, há muito tempo, deixou de lutar em prol dos palestinos.

Pois vejam vocês a última façanha da "democracia" israelense: os dois partidos árabes responsáveis por representar 20% da população foram banidos da próxima eleição, que deve ser realizada no começo de fevereiro. Em carta de 2001 endereçada ao jornalista Thomas Friedman, Nelson Mandela já alertava para a nova cara do Apartheid:

"(...) Israel não pensava num 'Estado' e sim numa 'separação'. O valor da separação mede-se em termos da capacidade de Israel para manter judeu um Estado judeu e de não ter uma minoria palestiniana que pudesse no futuro transformar-se em maioria. Se isso acontecesse, obrigaria Israel a tornar-se ou um Estado laico e bi-nacional ou a tornar-se um Estado de apartheid, não só de facto, mas também de direito.

Thomas, se você prestar atenção às sondagens israelitas ao longo dos últimos 30 a 40 anos, vai ver claramente um racismo grosseiro, com um terço da população a declarar-se abertamente racista. Este racismo é do tipo 'Odeio os árabes' e 'quero que os árabes morram' Se você também prestar atenção ao sistema judicial israelita, vai ver que há discriminação contra os palestinianos, e se considerar especialmente os territórios ocupados em 1967 vai ver que há dois sistemas judiciais em acção, que representam duas abordagens diferentes da vida humana: uma para a vida palestiniana, ou para a vida judia.

Além disso, há duas atitudes diferentes sobre a propriedade e sobre a terra. A propriedade palestiniana não é reconhecida como propriedade privada, porque pode ser confiscada. Para a ocupação israelita da Cisjordânia e de Gaza, há um factor suplementar a tomar em conta. As chamadas 'Zonas autónomas palestinianas' são bantustões. São entidades restritas no seio da estrutura de poder do sistema israelita de apartheid.

O Estado palestiniano não pode ser um sub-produto do Estado judeu, só para conservar a pureza judaica de Israel . A discriminação racial de Israel é a vida quotidiana dos palestinianos, porque Israel é um Estado judeu, os judeus israelitas têm direitos especiais de que os não-judeus não beneficiam. Os árabes palestinianos não têm lugar no Estado 'judeu'.

O apartheid é um crime contra a humanidade. Israel privou milhões de palestinianos da sua liberdade e da sua propriedade. Ele perpetura um sistema de discriminação racial e de desigualdade."

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