jueves, mayo 22, 2008

Quero pousar!


Fernando Sabino começou a pensar no tema há bastante tempo. Coitado do mineiro... Na época devia ser ainda pior: sentar na janela e olhar as hélices até que, por algum infortúnio que secretamente imaginava, uma delas parasse de funcionar. Morria de medo, como eu e metade dos passageiros – provavelmente aqueles que descem do avião de nariz empinado, como se fossem pura coragem e tivessem acabado de enfrentar com destreza o monstro de lata!

Avião é coisa séria. Poderiam existir estudos antropológicos sobre o que uma viagem e nosso instinto de sobrevivência podem fazer. Os engenheiros todos são unânimes na hora de dizer que é o meio de transporte mais seguro. Mas tenho certeza que todos também já passaram por algum momento de desespero e que, nesse momento, não eram mais engenheiros – porque eram mortais. Eles, como eu, já olharam com desconfiança para aquelas figurinhas sorridentes do manual de segurança, e já sentiram no ar preocupado da aeromoça o sinal fatídico de que o serviço de bordo teria que ser interrompido por causa de uma turbulência.

Não adianta negar: esse sentimento que revira o estômago, que aguça nossos ouvidos e nosso nariz (para ruídos e cheiros que não estejam previstos no manual) existe em todos nós. Talvez isso explique o que, paradoxalmente, meu pai chama de “fenômeno inexplicável” (sim, ele é engenheiro). É só o avião tocar a pista que todos se levantam, mesmo sabendo que ficarão desconfortavelmente espremidos até que alguém se digne a abrir aquela porta. É a vontade desesperada de não estar a bordo quando o piloto resolver decolar de novo.

Já ouvi histórias cabeludas sobre vôos desgraçados, mas as nossas turbulências são sempre as piores, nossos pilotos são sempre os mais valentes (ou inconseqüentes). Os “sinais” que recebemos são sempre os mais fortes: “Uma vez fui viajar e vi três freiras na fila de embarque. E sabe o quê? Elas sentaram seis, seis poltronas atrás de mim! E na hora de acomodar a bagagem no compartimento, percebi que tinha colocado minha mochila em cima da bolsa de uma delas. Você acredita? Acredita que sobrevivi?!”.

Agora, com as promoções das companhias aéreas, democratizamos o medo de avião! A nação unida sob um mesmo objetivo: pousar. Aliás, quem fez festa quando disseram que o Brasil estava “decolando”?! Só o senhor Presidente. Também, com um avião daqueles, até eu, até Sabino.

2 comentarios:

João Paulo dijo...

É dona Laura, é verdade que vc nao eh a única que tem medo de montar nessa coisa que homem inventou e que desafia as leis da natureza.. é meio que intuitivo ter medo de andar de avião, não? Por exemplo.. conheço materiais que flutuam na agua por si solos.. a rolha flutua, o plastico flutua.. etc.. Agora alguem pode me dizer um material que voa por si solo? jaja Claro que o exemplo é ridiculo. Todos sabem que o avião voa devido ao empuxo causado pela diferença de pressão que ocorre nas faces das asas. Fazendo com que o "bichinho" suba e suba!Agora e o helicoptero que nem asa tem? hahah esse sim eh que deve dar medo!! Mas enquanto nós engenheiros ainda não desenvolvemos um aparelhinho de teletransporte temos que ter coragem pra enfrentar, não o avião, mas as filas, o desconforto y la mala leche de las azafatas!!

Cauê dijo...

ótimo!

tenho medo quando os aviões pousam ou levantam vôo...