martes, junio 05, 2007

Raízes


A beleza dos quadros foi bondosa. Permitiu-nos até chegar perto, para certificarmos que ali estavam as pinceladas. Não intimidou. Convidou cada um dos visitantes a entrar no universo da paleta colorida. Era como o anfitrião nos dissesse: “Passem, conheçam minha vida, sintam-se a vontade, meu quarto é de vocês”. E assim entramos no quarto de Van Gogh, caminhamos por seus campos, acompanhamos o jantar de seus plantadores de batata (até onde a chama da única vela agüentou).

Já no final da exposição, Tree Roots, com os azuis e amarelos que só ele sabe como usar, nos propós pensar em o que, realmente, nos liga a terra, nos faz forte e nos protege: raízes fortes, nada mais. “As if they were grimly and passionately rooted into the earth and yet half torn loose by the storms. I wished […] the black, testy roots with their knots to express something of the battle for life”.

Fácil entender sua relação com o irmão Theo, sua única morada e porto seguro.

Ao final das linhas nos foi possível descobrir o que achava ele da vida e do mundo. Sua mente perturbada (ou seria a nossa, de não ter entendido antes sua lógica), de forma incrível, formulou raciocínios tão simples e coerentes que até hoje desconcertam quem traduz sua linguagem. Não é lero-lero pseudoartístico. É só uma dose de Van Gogh: a esperança, perseverança, amor, ambição e realização que buscamos descobrir nos matizes de cada dia. E que, no fundo de sua loucura, ele encontrou.
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O fim da tarde era de um laranja quase ofuscante (saberia Van Gogh reproduzi-lo?!). O caminho florido deixava evidente a primavera e a estrada de mais de 1300 km chegava ao fim. Passamos por tanta gente, tanta cidade, tanta história que me resulta difícil organizar um raciocínio (por simplista e reducionista que seja):

Frankfurt, a chegada, os abraços e beijos, a saudade acumulada que, num despejo de emoção, desaparece. Inicio de viagem, vontade de gritar: mundo apresente-se!!!!

Cidades sem nome ao longo do caminho tiveram papel de coadjuvantes dignas de Oscar.

Colônia, com suas cervejarias e seu goulash – incrível! A catedral é – arrisco ser simplória – mais que grandiosa. É imponente.

Amsterdã nos recebeu da maneira mais incomum que poderíamos imaginar: quase de atropelo, literalmente! Linda, original, caótica.

Brugges é o sonho na Terra, o conto de fadas que idealizamos de pequenos. A história doce e crua que só deixa a desejar o cavaleiro e a princesa.

Paris é Paris. E Paris é quase tudo! É arte, é história, é arquitetura. Seus cidadãos podem gabar-se do que possuem – e o fazem!!!

Madrid representa laços e passados que adoramos recordar! Passamos lindamente, ao lado da família que tanto hechamos de menos y tanto amamos.

A Toledo de Don Quixote é fantástica, de pedra, uma fortaleza que permanece parada no tempo guardando espadas e segredos entre as ladeiras.

Mas, voltando ao carro e ao final de tarde que nos saudava, me dei conta que, poderia ter mudado o nome de todas as cidades pelas quais havíamos passado; poderia reduzi-las a uma se uma condição se mantivesse: a companhia da minha família. Estava chegando a Sevilla depois de oito dias de sonho, oito dias de surpresas e experiência, e me sentia plenamente feliz. Van Gogh sabe do que falo. Quando se tem raízes fortes e pode compartilhar com elas o caminho, todos os destinos te levarão de volta para casa.



*Vivendo um conto de fadas com a família que eu tanto amo. Brugges – Bélgica.

5 comentarios:

Anónimo dijo...

Lau,estou orgulhosa de você..
Te amo saudades muitos beijos..

Anónimo dijo...

Olá...

Mas que viagem linda Laura! Escolheram muito bem as cidades e locais.
Fiquei com água na boca só de ler sua descrição das cidades visitadas por você. E o melhor de tudo: estar com sua família. Que delícia...

Bem... agora só me resta a invejinha... :)

beijão no coração...

fabio

José Lacerda (Jolac) dijo...

Laura, de saudade grande
Li seu "roteiro de viagem" e fico imaginando se vc tivesse um livro todo para escrever, o quanto mais beberíamos de seu texto!
O blog é pequeno, ingrato na medida em que nos limita, amplo quando atinge muitas pessoas, e quente quando a mensagem é doce e correta como a sua.
Vejo um horizonte jornalístico em sua vida e ele já vem se aproximando, lentamente, mas sem parar. O dom da palavra oral morre com a vida, mas o dom da escrita é eterno.
Keep writing, my dear!
Do amigo que anda com saudade dos Daudens todos.
Lacerda

Anónimo dijo...

Lau!
Primeiro: que saudades!
Segundo: que coisa linda!
Terceiro: que mega vontade de ver tudo isso de perto tb!

Tô tão feliz por ti aí, pessoinha! E,imagina, com a família, então?
Volta logo pra contar tudo em mais detalhes.
Um beijo grande,
Mari

Anónimo dijo...

Oi Laura!! Tudo bem??? Estou com saudades e ansiosa por novidades... adorei a descrição da viagem que fez com a tua familia!!! Bjs