Entrou como se fosse da casa. Não era a primeira vez que estava no restaurante e já conhecia os degraus que separavam a entrada do salão. Não titubeou: escolheu a melhor mesa (são sempre ao lado de uma linda janela) e se sentou de maneira esparramada, num conforto quase forçado. Queria atenção e, para tanto, gesticulava impaciente para o garçom que, percebendo a aflição do cliente, apresentou-se solícito. O cliente foi rasteiro e, como diria minha avó, tratou o jovem atendente “com casca e tudo”. Pediu o mais caro tinto do menu para a entrada. Fechou o cardápio e aguardou olhando o movimento através da janela. É... Estava só, mas ainda tinha aquela janela...
Tinha bondade no fundo do olhar e os ares da maturidade precoce – ai, os ares da maturidade... - escondiam a carência do menino já homem, ou quase homem, ou quase menino. Tinha classe, e isso o que lhe importava. E a janela... através daquele recorte de mundo, via as senhoras e senhoritas, cada qual a sua maneira. Mal sabiam elas que, enquanto passeavam na noite, passavam pelo crivo do rapaz. Nenhuma lhe parecia bela o suficiente, mas isso não vem ao caso porque o vinho chegou rápido e o desviou de seus pensamentos.
O cheiro da rolha o fez fechar os olhos. Sem se dirigir ao garçom, viu o tinto encher um quinto da taça e rebolar com o movimento feito para que o aroma se apurasse. Num ritual conhecido, cheirou e bebeu e aprovou. E seguiu tomando, enquanto o prato principal não chegava. Mas também logo, chegou. E ele se refestelou sozinho, e criticou sozinho um tempero diferente, e sozinho devolveu os pratos ao garçom enquanto pedia um delicioso bolo de chocolate com sorvete para a sobremesa.
Não pôde dividir com ninguém a vontade daquele doce e, pior, o prazer satisfeito nas duas primeiras garfadas. Isso porque na terceira ele parou, olhando desolado para o pratinho decorado de flores. Sem mais nada a pedir, sem mais vinho na garrafa, se pôs a brincar com o bolo e o sorvete, transformando-os em uma papa mole e feia – assim mesmo como os pais não nos deixam fazer quando somos crianças. O garçom trouxe a conta, ele pagou e saiu como entrou, deixando para trás qualquer vestígio de solidão e criancice.
Tinha bondade no fundo do olhar e os ares da maturidade precoce – ai, os ares da maturidade... - escondiam a carência do menino já homem, ou quase homem, ou quase menino. Tinha classe, e isso o que lhe importava. E a janela... através daquele recorte de mundo, via as senhoras e senhoritas, cada qual a sua maneira. Mal sabiam elas que, enquanto passeavam na noite, passavam pelo crivo do rapaz. Nenhuma lhe parecia bela o suficiente, mas isso não vem ao caso porque o vinho chegou rápido e o desviou de seus pensamentos.
O cheiro da rolha o fez fechar os olhos. Sem se dirigir ao garçom, viu o tinto encher um quinto da taça e rebolar com o movimento feito para que o aroma se apurasse. Num ritual conhecido, cheirou e bebeu e aprovou. E seguiu tomando, enquanto o prato principal não chegava. Mas também logo, chegou. E ele se refestelou sozinho, e criticou sozinho um tempero diferente, e sozinho devolveu os pratos ao garçom enquanto pedia um delicioso bolo de chocolate com sorvete para a sobremesa.
Não pôde dividir com ninguém a vontade daquele doce e, pior, o prazer satisfeito nas duas primeiras garfadas. Isso porque na terceira ele parou, olhando desolado para o pratinho decorado de flores. Sem mais nada a pedir, sem mais vinho na garrafa, se pôs a brincar com o bolo e o sorvete, transformando-os em uma papa mole e feia – assim mesmo como os pais não nos deixam fazer quando somos crianças. O garçom trouxe a conta, ele pagou e saiu como entrou, deixando para trás qualquer vestígio de solidão e criancice.
*Pintura de Judi Bagnato