lunes, marzo 12, 2007

Ao pedir dois cortados

Segue o relato de uma coisa que não me agrada. Receio parecer desagradável com este post, mas nem tudo são flores... Faz parte! E como relato de viagem, acho (e espero) que seja válido. Aí vai!
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Manu e eu. Entramos em um café que há tempo nos chamava a atenção. Na vitrine, lindos doces de amêndoas e de chocolate dividiam espaço com grandes pedaços de presunto. Local movimentado, pessoas sentadas e pessoas em pé, sorvetes apetitosos por apenas um Euro. Pronto! Havíamos descoberto mais um daqueles cafés, que enchem Sevilla de aroma e calorias impróprias.

Fomos direto ao balcão, já que sentar à mesa tornou-se, digamos... um luxo. “Hola, buenas noches. Dos cortados por favor!”. As palavras foram acompanhadas pelo velho sorriso que a vida no Brasil nos ensinou a dar. Aquele sorriso não forçoso nem exagerado. Simpático e natural, próprio daqueles que prezam por um mínimo de cordialidade.

Logo, dois pires foram arremessados, literalmente, em nossa direção. Preparamo-nos para o bombardeio que prevíamos acontecer: dois saches de açúcar e duas colheres voaram livres pelo salão e pousaram male mal no pedaço de balcão que nos correspondia. Sem jeito, pedi que ele trocasse o meu pratinho porque estava sujo. De mal grado, me deu outro. Ou melhor, me atirou outro.

Antes de vir recebi avisos e conselhos sobre este comportamento freqüente de desdém. E até agora, acho que consegui levar numa boa. Mas não aquele dia! Depois de ver o leite do cortado se esparramar pelo balcão – já que não fora despejado com delicadeza alguma - decidi falar alguma coisa.

Lembrei da Loren me incentivando a dizer aos espanhóis que deixem de ser presunçosos e mal-educados. Lembrei do meu pai, contado o drama que pode se tornar o pedido de um croissant com queijo e presunto em Barcelona. Lembrei de minha mãe me dizendo na pré-escola que eu não precisava levar desaforos. Lembrei de um artigo que li sobre como os europeus, de modo geral, estão se tornando pessoas anti-sociais. E falei.

Na hora de pagar, com toda a educação, disse que no havíamos sido bem atendidas naquele local. Fui cortada por um “Si. Y?!”. O homem nos deu as costas e saiu, como se não se importasse – e de fato não se importava – com a informação.

Estou fazendo um intercâmbio. Estou aprendendo muitas, muitas coisas legais. Mas se supõe que deva ensinar muitas e muitas também! Não foi desta vez que consegui. Mas não desistiremos, Manu, eu e nossos sorrisos.
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Mono no me no
Araware ideshi
Daiji kana


Que los brotes de las cosas
Salgan y aparezcan…
¡Es el fundamento de todo!


(Haiku do livro de Vicente Haya, ex-marido da Loren, filósofo, escritor, e dono da biblioteca)

*Na foto, eu em boa companhia. Um lindo dia de piquenique no parque Maria Luisa. Crédito da foto à função automática da minha nova câmera!


8 comentarios:

Rita Branco dijo...

Laurinha...Laurinha...

Vou começar com o veneno do Rui:
"Fala prá ela que os espanhóis é que são assim, os portugueses são bonzinhos" (finge que acredita hehehe)

Bem-vinda à Europa!
É isso aí não desista nunca!!
No começo, eu chorava todos os dias, indignada com a grosseria de todos, e
chegava em casa, pulando de alegria, quando alguém me tratava bem (como se não fosse obrigação, das pessoas tratar-nos bem)
Mas...o tempo foi me ensinando, que a felicidade dos brasileiros, incomoda e muito!! Porque eles não coseguem...simplesmente sorrir por sorrir.
Dias atrás, estávamos num restaurante jantando com sogra e cia ltda e de repente abracei o Rui, beijei-o e disse bem alto: "Meu amor!!!". A mãe dele virou prá ele e disse: "Ela é sempre assim?????"
Eu e o Rui começamos a rir e dissemos: SIM!!!!

Dizem que a gente se acosutma com todas essas diferenças...mas
podem passar quantos anos forem necessários, pode rolar o meu sangue português nas veias, pode me dar a nacionalidade portuguesa a liberdade de andar por toda esta tão desejada Europa - eu nunca vou tirar do meu rosto o meu sorriso e dos meus olhos o brilho e o orgulho de ser BRASILEIRA!
Beijos!!

Anónimo dijo...

Laurinha,

Contrariando o que disse o Rui, tive um caso de grosseria desse tipo , há muitos anos em Lisboa(década de 80-sou jurássico, assumo).
Eu havia acabado de assistir ao filme "A última tentação de Cristo", que àquela época sua exibição estava PROIBIDA (acredite!!) no Brasil.
Bem, saí do cinema localizado próximo à Praça Marques de Pombal, tomei um taxi e enquanto dirigia-me ao hotel, contei,com entusiasmo, para o motorista do taxi, a minha alegria por ter assistido a um filme proibido em meu país.
Sabe o que o cidadão me disse?
-Eu tenho que lhe confessar que eu não gosto de cinema. Além disso, não gosto de falar enquanto dirijo.Portanto, CALE-SE!!!!!
O que foi que fiz? CALEI-ME!!!
Será que de lá prá cá as coisas melhoraram na Europa? Pelo jeito não, infelizmente.
Cabe-lhe, como intercambista, arquivar o fato na pasta de "Experiências adquiridas no velho mundo".
Todavia, parabenizo-a pela coragem de falar com o sujeito (o tal do Si.Y?)CANALHA.....

bjs,


Maurão

Anónimo dijo...

Laauu!!! Fiquei me imaginando ai com esse seu post...Hahahah...a cafeteria já estaria de pernas p o ar comigo falando todas as linguas possiveis e imaginárias..!! Hahaha...Consegue me ver?? Rs...
Eu jamais aceitaria um tipo como esse...Ia toca o inferno hahaha!!!

Amei falar c vc hj mesmo q parecendo que n temos muitos assuntos né...Estranho...N sei...Como se nos vissemos sempre...

Se cuida minha gata e qndo der fala poucas e boas por mim!! heheh

BJOOOOO!!! Amiga do meu core!

Anónimo dijo...

Hey...

Olha... nem todos os cafés são assim! Por isso, fique tranquila. Existem piores. Pelo menos esse tinha pratos limpos. Tem outros cafés que nem adianta pedir para trocar os pratos, pois é uma loteria, ou pode vir um prato muito mais sujo, ou pode vir um prato aparentemente limpo, que na verdade está sujo. Nunca se sabe. Um em um milhão.

Esses cafés europeus são realmente uma caixinha de surpresas.

Mas enfim, continue fazendo sua parte e nunca deixe de falar. FALE!
Rebele-se contra esse sistema corrompido e corrupto dos cafés Sevilhanos! Liberdade de expressão... Socialismo!! opss... me empolguei...
Melhor eu ficar por aqui.

Beijos grandes,

Fabio

José Lacerda (Jolac) dijo...

Oi, Laurinha
Eu sempre achei os europeus uns grossos de galocha! Estudei 12 anos em escola francesa, em São Paulo, e só via grosserias vindas de professores e de colegas de estudo. Tenho amigos atuais, descendentes de europeus, que não sabem beijar um neto, abraçar e beijar a esposa em público, abraçar, carinhosamente, um amigo homem.
A Europa, por ter passado por duas guerras, acho que deixou morrer o amor ao próximo, o carinho, a gentileza.
E, olhe que você está no país do turismo mundial! Um panaca que destrata uma moça tão legal como você mereceria a forca, no ato, e o esquartejamento público, como o nosso Tiradentes!
Quando você for à Itália, vai ver o berço da grosseria, onde todos são indelicados com todos.
Ainda tem gente que fala mal dos brasileiros, ou dos americanos!
Mas - conselho de amigo velho - não faça de sua estada em Sevilha um diário das grosserias. Olha o que há de bom, o que tem de civilizado.
Homem que maltrata mulher não está com nada, mesmo!
Panaca!
Keep writing o seu blog!
Um abração saudoso do amigo
Jolac

Anónimo dijo...

Oi Lau!

Que imbecil esse cara...até parece o cara da "porció" e "ració" que te contei, que quis tirar uma com a Mami e comigo em Barcelona...

Esquece - infelizmente tem gente assim...

Voce fez muito bem em dizer a ele que ele estava errado. Mas ncontente-se com isso e não espere que ele entenda.

O bom é que VOCE ficou sem ter de engolir o que tinha te incomodado.

Já esperar que um idiota desses entenda...

E lembre-se:

"Never argue with a fool - others may not tell the difference!"

Beijos grandes,

Papi

Anónimo dijo...

Laura,
Se tudo fosse maravilhas, não teria muita graça, não é mesmo...
Voce não teria essas histórias pra contar que por incrível que pareça são delas que a gente se lembra o resto da vida, veja os relatos acima..., portanto passe por elas como experiências para relatar....e curta a passagem.....
Beijão

Anónimo dijo...

Laura só tenho uma coisa a dizer... Vou ai bater nesse homem!!!
Bom, isso acontece, e voce fez muito bem em falar! Fale mesmo, pois ainda que ele nao tenha feito a parte dele, não absorvendo muito do que voce tentou ensinar, voce fez a sua, e esta ai sorrindo, ao contrario desse mau amado!
Como sempre até historias ruins sao boas de ler do jeito que voce escreve.
Se cuida linda,
Te amo!
beijos!