Acabo de ler Cartas de Juventude, de Antoine de Saint-Exupéry. Gulosa que sou, devorei os escritos em uma tarde – inspirada talvez pelo barulho da fonte, aqui no solário da faculdade. Ao final, já fazia minhas as palavras endereçadas a Renèe de Saussine, a Rinette de Antoine.
Ele sim sabe escrever. E, mais que isso, sabe ver nas coisas os detalhes mais lindos. Talvez por ele, ou talvez pela necessidade de consumir o recheio de tempo que encontro entre o almoço e a oficina de fotografia, ou talvez pelos dois, me vejo com a caneta na mão, pronta para escrever-lhes. Esta postagem é uma carta de juventude, e espero que cada palavra possa levar consigo o sentido da minha, que é generosa.
São 4h da tarde e o sol ainda queima leve. Está adiantado. Insiste em tomar o lugar do persistente friozinho europeu que, posso ver, logo se vai de vez. O azul que acompanha o sol é puro, puro azul. E não é egoísta porque, durante as noites, divide a atenção com as estrelas.
O ambiente me faz esquecer da pequena dor de estômago, provocada ou pelo café solo que acabo de tomar, ou pela apreensão de já estar longe há tanto tempo, ou por simplesmente pensar que pode ser o café e a apreensão.
Problemas estomacais são menores quando se tem o cheiro das flores de azahar que, por um desapego comovente, dividem com os sevilhanos esse doce que produzem: pretensão tentar descrevê-lo. Como conclui Antoine, definitivo, em uma discussão literária sobre os “cumes sublimes”, os “horizontes leitosos” e as “rochas douradas”: “São o Cume, o Entardecer, a Aurora (...). Quanto mais os descreve mais impessoal fica”. Então, são só as Flores de Alzahar.
Não quero embelezar nada, não vejo necessidade. Ficarei contente em saber se pude transmitir de forma sincera e profundamente carinhosa, uma tarde ao sol de Sevilla.
“Rinette, adeus. Talvez encontre suas cartas na volta. (...) Com esse tempo tão doce todo mundo tem um segredo. Mas é sempre o mesmo. Pois olhamo-nos e sorrimos. E para sorrir não é necessário saber três palavras de espanhol, então sorrio... Tenho o papel de carta na mão caso sinta vontade de escrever-lhe ainda esta noite. E se não escrever...
Antoine.”
*Nas fotos, eu, o jardim do Real Alcázar e os Almendros roubando a cena.