domingo, octubre 05, 2008

Inflação primaveril

As três pequeninas andavam juntas pelo centro da cidade, cheio por conta do belo dia para compras e passeios. Aproximaram-se da banca que anunciava uma promoção de flores e plantas em comemoração ao início da primavera. Abrindo pequenos espaços entre a multidão, olharam bem para os preços, como que pesquisando. Mas a inflação não poupa nem as flores, nem ninguém. Por sorte, acharam uma margarida da cor que buscavam – amarela, como o laço que enfeitava os cabelos castanhos da menor. Puxaram a vendedora pelo avental e apontaram o que tinham escolhido levar.

As crianças das cidades geralmente têm uma experiência de jardinagem limitada. Na escola aprendem a plantar o feijão em algodão e só. Não costumam ligar mais para as flores até ficarem adultas, quando comprar ou receber uma flor assume significados diversos. Vai visitar? Uma gérbera. Nasceu o bebê? Uma violeta. É encontro? Rosas, sem pestanejar. Assim nos dizem - nada de plantar por plantar, nada de florescer por florescer.

Mas ali, em meio à passagem encardida da vida, numa pequena pausa na correria que não nos deixa tempo para flores nem crianças, elas juntaram as mãozinhas e despejaram o que tinham de moedas para comprar um lindo vaso de margaridas amarelas! Vi a cara da vendedora se impacientar: “quem vai contar tudo isso?”.

Depois de constatarem que havia o suficiente, perguntaram se um pacote com papel de seda e fita de cetim podia ser feito. “Mais dez reais”, disse com má vontade a boca no meio da cara redonda. “É mais caro o embrulho do que a flor...”, constataram na sua esperteza de seis ou sete anos. E, desapontadas, deixaram no lugar as margaridas amarelas, envoltas em plástico frio e transparente, assim, como costumam nos entregar a vida nos dias de hoje.

5 comentarios:

José Lacerda (Jolac) dijo...

Cara Laura,
Vc não tem o direito de nos privar de suas crônicas, tão bem feitas, diretas, cheias de conteúdo, nas linhas e, principalmente, nas entrelinhas!
Porque sumir do blog se ele nos faz absorver suas palavras com satisfação de leitor que sabe?
Exupéry ja escreveu que "você é responsável por aquele a quem cativas". Mas vc, irresponsavelmente, após nos cativar com suas crônicas, nos deixa à mercê do vazio, do nada!
O que é isso, menina?
Um enorme abraço amigo.

milu leite dijo...

oi, laura. gostei bastante daqui. virei sempre!
fui ver tuas fotos no flickr e também adorei. shows, retratos, achados nas ruas, paisagens. a variedade é grande, né?
bjo

Anónimo dijo...

Oi Laurrrriiiinha!!!!!!!

Nossa não acredito que te encontrei!!!

Não sei por que outro dia senti muita saudade de você, só que não tenho teu email nem nada! E como tudo que eu não encontro eu Google, decidi Google Laura Toledo up! Aí encontrei teu blog e vi você e sua família, nossa fiquei muito feliz, vocês estão lindos, a Carlinha muuuiiito crescida! Eu nem conseguia para de olhar a foto de tão feliz que fiquei! E deu mais saudade ainda!
Amei seus textos! Conforme lia parecia que voltava a minha infância e que ouvia você falar! Muita saudade!
Eu também te adicionei no skype, mas nunca consegui falar, por isso escrevi no blog!
Beijos e abraços
Fany

P.S.: Meu email é fany_lima@hotmail.com

Graziele Frederico dijo...

Laurinha..ler seus textos me trazem um pouquinho do prazer que tem sido poder dividir minha vida esses quatro anos contigo.
Acho que vou sair e comprar margaridas amarelas.

Anónimo dijo...

Olá, gostaria de saber qual é a sua ligação com o Saara Ocidental. Obrigado!

Luiz
email: tom380@bol.com.br